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Esquizofrenia: o desafio de levar uma vida independente

Publicado hace 2 años por Un ensayo para mí

Descubra por que o glutamato é a chave para deter o declínio cognitivo dos pacientes e melhorar suas habilidades sociais para funcionar na vida cotidiana.

Esquizofrenia: o desafio de levar uma vida independente. Descubra por que o glutamato é a chave para deter o declínio cognitivo dos pacientes e melhorar suas habilidades sociais para funcionar na vida cotidiana.

Durante milênios, a esquizofrenia foi considerada um estado incompreensível e incontrolável, mais uma possessão demoníaca digna de ser confinada do que uma doença mental que necessitava de tratamento. Hoje se sabe que este distúrbio psiquiátrico é um problema de desenvolvimento neurológico, cujas alterações biológicas podem ser tratadas para evitar as alucinações visuais e auditivas, delírios e agitação que caracterizam esta doença. No entanto, a deficiência cognitiva vista na esquizofrenia, que impede os pacientes de levar uma vida autônoma, ainda não foi remediada.

A esquizofrenia continua sendo um desafio para os médicos, pacientes e suas famílias, pois afeta mais de um por cento da população mundial e geralmente começa antes dos 25 anos de idade. A Organização Mundial da Saúde estima que existem hoje cerca de 24 milhões de pessoas vivendo com esquizofrenia no planeta. Na Argentina, cerca de 7 em cada 10 pacientes com esquizofrenia não têm acesso a tratamento adequado, e muitos deles não têm moradia para lidar com sua doença em regime ambulatorial quando emergem da fase aguda ou “surto”.

Entre as muitas causas de esquizofrenia estão os desequilíbrios de certos neurotransmissores que transmitem mensagens entre células nervosas no cérebro, bem como a herança de certos genes e influências ambientais (principalmente de infecções muito precoces que afetam o desenvolvimento).

Embora existam tratamentos medicamentosos muito eficazes para reduzir os sintomas mais marcantes da esquizofrenia, muitos pacientes também querem ser capazes de trabalhar e estudar. Para isso, novos medicamentos são necessários para restaurar suas habilidades cognitivas, muitas vezes prejudicadas por anos de doença.

Antipsicóticos e deficiência cognitiva

A estigmatização de pacientes com esquizofrenia os manteve isolados por séculos, às vezes submetidos a experiências cruéis e estudos imprecisos. Entretanto, com o surgimento de pesquisas médicas modernas, conduzidos com a aprovação de comissões de ética independentes, o medo de pessoas com esquizofrenia começou a diminuir e pacientes e famílias começaram a ver avanços notáveis no tratamento.

Nas últimas décadas, diagnósticos e medicamentos mais precisos destinados a modular a ação dos neurotransmissores tornaram possível controlar os chamados “sintomas positivos” da esquizofrenia. Graças a este medicamento antipsicótico, muitos pacientes deixaram de ouvir vozes, de construir ilusões ou de se sentir perseguidos.

Os sintomas remetem completamente em até um terço dos pacientes com esquizofrenia. No entanto, com o tratamento dos medicamentos, muitos pacientes sofrem efeitos adversos ou continuam com uma característica inicial da doença: falta de interesse, limitações na expressão, indiferença. Será isto um efeito colateral dos medicamentos antipsicóticos? Talvez, não seja certo. Mas há, além disso, outra área preocupante que não é resolvida pelas drogas atuais: desorganização e lentidão de pensamento, esquecimento recorrente, desatenção, deficiência cognitiva.

Distúrbios pendentes


Talvez a representação mais eloqüente da esquizofrenia tenha sido oferecida pelo filme “Uma Mente Brilhante”. Nele, o futuro ganhador do Prêmio Nobel John Nash e sua esposa foram confrontados com uma decisão difícil: seguir um tratamento com drogas para controlar suas ilusões paranóicas e aceitar um progressivo “apagão” mental, ou dar rédea solta ao brilhantismo do matemático à custa de uma ruptura da vida cotidiana e dos laços sociais?

Este dilema afeta muitos pacientes e seu ambiente. Embora os novos medicamentos antipsicóticos hoje permitam “curar” uma parte da grave doença psiquiátrica, eles não parecem agir da outra parte, talvez menos floridos, mas necessários para viver uma vida independente, para trabalhar, para desfrutar e criar. Mesmo que melhorem, a maioria das pessoas com esquizofrenia precisa de ajuda nas atividades diárias, como planejar uma refeição, fazer compras, limpar a casa ou arrumar a roupa. Eles não se lembram do que estão tentando aprender, ficam desorganizados quando querem planejar uma consulta médica, não conseguem se concentrar em um livro ou em um filme.

É esta esfera cognitiva que é alvo de uma nova classe de drogas experimentais, que se concentram em moléculas que estimulam a transmissão nervosa em regiões do cérebro ligadas à aprendizagem e à memória.

Estudo clinico para pessoas com Esquizofrenia

Falhas na transmissão nervosa

Durante séculos, os especialistas debateram as chaves da esquizofrenia. Alguns apontavam para a dissociação entre o efeito e o pensamento experimentado pelos pacientes, outros focalizavam a perda irremediável da função cognitiva na juventude (daí o termo ” demência precoce”). Com os avanços científicos em neurobiologia, tornou-se conhecido que há alterações nos neurotransmissores que provocam respostas dentro das células nervosas (neurônios) ou no espaço entre elas (sinapses).

Várias drogas têm sido usadas para modificar a ação do neurotransmissor dopamina na esquizofrenia. As drogas que atuam sobre os dois receptores neuronais de dopamina têm tido sucesso no controle dos sintomas agudos da doença, conhecidos como “quebras psicóticas”. Muitos também trabalham com sucesso a longo prazo para evitar delírios, mas à custa de efeitos adversos. E os antipsicóticos que visam a dopamina não intervêm nos problemas cognitivos que afetam os pacientes.

Uma nova teoria sobre a origem da esquizofrenia, especialmente seus distúrbios cognitivos, surgiu recentemente. De acordo com esta hipótese, a esquizofrenia é o resultado de um desequilíbrio na quantidade disponível de glutamato, um neurotransmissor que atua no nível do sistema nervoso central. A disfunção de seus receptores em diferentes regiões do cérebro explicaria porque os pacientes têm dificuldades em pensar, planejar, aprender, relacionar conceitos e lembrar.

A hipótese do glutamato

O glutamato é um aminoácido necessário para fazer proteínas que são normalmente armazenadas em células do sistema nervoso central. Quando um impulso excitatório chega a um neurônio, o glutamato é jogado no espaço entre certas células nervosas (sinapses) para transmitir a mensagem para o neurônio seguinte. Após ser absorvido por um receptor específico no neurônio seguinte (chamado NDMAR), o glutamato é transportado de volta para a célula de onde começou, para ser armazenado até ser novamente necessário.

Para que a transmissão nervosa funcione rapidamente, o receptor de glutamato em certas células nervosas deve ser ativado por moléculas específicas, que têm de manter um equilíbrio muito delicado na sinapse para não produzir reações nervosas tóxicas, tais como convulsões ou marcha compulsiva. Quando o receptor NMDAR de glutamato não funciona suficientemente, várias patologias podem ocorrer, inclusive esquizofrenia.

Um novo tipo de droga que inibe uma molécula envolvida neste complexo caminho do glutamato é uma das esperanças para restaurar a função cognitiva prejudicada e permitir que os pacientes vivam independentemente em casa, no trabalho ou na escola.

O novo medicamento de investigação (conhecido como BI 425809) está passando pela fase 3 de testes no Brasil, entre outros países. A Administração de Alimentos e Drogas dos EUA (FDA) já deu um primeiro aceno verde a esta inovadora droga, antecipando que será autorizada a tratar os distúrbios cognitivos da esquizofrenia se os resultados do ensaio da fase 3 forem bem sucedidos, algo que será visto em 2024.

Sobre CONNEX: Novo tratamento de investigação para os sintomas cognitivos da esquizofrenia


Uma série de pesquisas médicas está sendo realizada na América Latina como parte do programa de pesquisa CONNEX, que visa testar a eficácia de um novo medicamento chamado BI 425809 no tratamento dos sintomas cognitivos da esquizofrenia.

As pessoas diagnosticadas com esquizofrenia que vivem no Brasil, Argentina, Chile, México e Colômbia podem solicitar a participação nesta pesquisa médica, que foi aprovada por órgãos reguladores em cada país e por Comitês de Ética.

O programa CONNEX aborda o tratamento das deficiências na cognição executiva, atenção e memória que fazem com que esta doença prejudique a capacidade de uma pessoa de ser independente.

Para receber mais informações sobre esta pesquisa médica, basta preencher o seguinte formulário.

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Referências bibliográficas:
Boheringer Inglehem. Press release. 2021. https://www.prnewswire.com/news-releases/boehringer-ingelheims-investigational-treatment-for-cognitive-impairment-associated-with-schizophrenia-receives-fda-breakthrough-therapy-designation-301297651.html
Fleischhacker WW, Podhorna J, Gröschl M, Hake S, Zhao Y, Huang S, et al. Efficacy and safety of the novel glycine transporter inhibitor BI 425809 once daily in patients with schizophrenia: a double-blind, randomised, placebo-controlled phase 2 study. Lancet Psychiatry. 2021;8:191–201. doi: 10.1016/S2215-0366(20)30513-7
Telam. “Afirman que siete de cada diez personas con esquizofrenia no logra acceder a tratamientos adecuados”. Mayo, 24, 2021.
OMS. Esquizofrenia. 2022. https://www.who.int/es/news-room/fact-sheets/detail/schizophrenia
Uno Y, Coyle JT. Glutamate hypothesis in schizophrenia. Psychiatry Clin Neurosci. 2019 May;73(5):204-215. doi: 10.1111/pcn.12823. Epub 2019 Mar 6. PMID: 30666759.