Pacientes com Alzheimer e sintomas psicóticos do Brasil poderão participar do estudo clínico de um novo medicamento. Descubra como participar.
A doença de Alzheimer é o tipo mais comum de demência e representa a sexta principal causa de morte na América Latina. Embora sua prevalência aumente exponencialmente após os 65 anos — e uma em cada três pessoas com mais de 85 anos seja afetada —, ainda não existe uma cura nem um tratamento seguro e eficaz para impedir o declínio cognitivo nas fases finais da doença.
Poucas pessoas sabem que os problemas de memória e pensamento típicos do Alzheimer podem vir acompanhados, mesmo nas fases iniciais, de sintomas psicóticos, como delírios e alucinações. Isso torna o tratamento ainda mais complexo, exigindo cuidados especializados 24 horas por dia.
Para tratar esses casos de Alzheimer com psicoses associadas, pesquisadores estão testando um medicamento inovador, já aprovado para o tratamento da esquizofrenia. O estudo será realizado em diversos países, incluindo Porto Rico, Brasil e Argentina.
Pode se inscrever para participar aquiComo atua o medicamento KarXT no Alzheimer
Atualmente, o tratamento do Alzheimer envolve drogas que atuam sobre diferentes neurotransmissores cerebrais relacionados à memória e ao aprendizado. Por exemplo, a memantina atua sobre o glutamato, enquanto outras drogas interferem na dopamina ou na enzima colinesterase, responsável por degradar a acetilcolina.
Recentemente, foram aprovados dois anticorpos monoclonais — lecanemabe e donanemabe — que ajudam a evitar o acúmulo das proteínas anormais beta-amiloide e tau no cérebro, atuando nas fases iniciais da doença.
No entanto, nenhum desses medicamentos é eficaz nas fases avançadas ou quando o paciente apresenta delírios, alucinações e outros sintomas neuropsiquiátricos, como agitação, impulsividade, desmotivação e alterações de humor.
Por isso, será testado agora o KarXT, um fármaco com mecanismo inovador, que age sobre receptores específicos da acetilcolina, o neurotransmissor envolvido nos processos cognitivos e psicóticos do Alzheimer.
Sabe-se que no Alzheimer ocorre uma alteração patológica do sistema colinérgico, responsável pela transmissão da acetilcolina. Para compensar a redução progressiva dessa substância, propõe-se o uso da xanomelina, que estimula os receptores muscarínicos M1 e M4 distribuídos pelo organismo.
Como a xanomelina pode causar efeitos adversos em outros órgãos, os pesquisadores adicionaram uma segunda substância — o trospio — que impede a ação desses receptores fora do cérebro.
A combinação de xanomelina + trospio é conhecida como KarXT, e já demonstrou segurança e eficácia no tratamento da esquizofrenia.
Como participar do estudo clínico para Alzheimer
O KarXT será testado em Porto Rico, Argentina e Brasil, entre outros países, para avaliar se é capaz de reduzir os sintomas do Alzheimer com psicoses associadas e retardar a progressão da doença.
O estudo de fase 3, chamado ADEPT-4, recruta 406 pacientes entre 55 e 90 anos com diagnóstico de Alzheimer possível ou provável, e com sintomas psicóticos de moderados a graves.
Os voluntários devem apresentar exames de imagem cerebral (ressonância magnética ou tomografia computadorizada) e não ter outras doenças ativas (como respiratórias ou oncológicas).
Após assinar o termo de consentimento livre e esclarecido, metade dos participantes receberá pílulas de KarXT durante 12 semanas, e a outra metade placebo. Serão avaliadas principalmente as alucinações e delírios, além de outros parâmetros, como agitação, desempenho cognitivo e efeitos adversos.
O tratamento do Alzheimer com psicoses representa um enorme desafio clínico. Se o estudo ADEPT-4 obtiver resultados positivos, poderá abrir caminho para um novo medicamento contra a doença neurodegenerativa mais prevalente do mundo.
Pode se inscrever para participar aquiReferências
Clinical Trials. A Study to Evaluate KarXT as a Treatment for Psychosis Associated With Alzheimer’s Disease (ADEPT-4).
https://clinicaltrials.gov/study/NCT06585787?term=CN012-0056
Ismail, Z., Creese, B., Aarsland, D. et al. Psychosis in Alzheimer disease — mechanisms, genetics and therapeutic opportunities. Nat Rev Neurol 18, 131–144 (2022). https://doi.org/10.1038/s41582-021-00597-3
Nagori, K., Pradhan, M., Sharma, M., Ajazuddin, Badwaik, H. R., & Nakhate, K. T. (2024). Current Progress on Central Cholinergic Receptors as Therapeutic Targets for Alzheimer’s Disease. Current Alzheimer Research, 21(1), 50–68. https://doi.org/10.2174/0115672050306008240321034006
National Institute on Aging. How is Alzheimer’s disease treated?
https://www.nia.nih.gov/health/alzheimers-treatment/how-alzheimers-disease-treated